Comunidade Sancta Dei Genitrix usa simbologia católica, mas não é reconhecida por Roma nem por patriarcados ortodoxos
A jovem que viralizou nas redes sociais como “irmã Eva” — a ex-miss Kamila Cardoso, de 21 anos — não pertence à Igreja Católica Apostólica Romana, como muitos internautas imaginaram. Eva integra a Sancta Dei Genitrix, uma comunidade religiosa independente, registrada sob o nome de Igreja Católica Ortodoxa Siriana Renovada, com sede em Brasília.
Imagem: Reprodução
A Arquidiocese de Brasília afirmou que não há qualquer relação entre essa congregação e a Igreja Católica oficial. Já a Igreja Ortodoxa Siríaca de Antioquia, com representação no Brasil, ainda não se pronunciou.
A congregação foi fundada em 2001 e é liderada por José Ribamar R. Dias, chamado de “mestre” pelos fiéis. Embora padres possam se casar, as irmãs consagradas fazem votos de castidade, pobreza e obediência — mas muitas tiveram filhos antes de entrar na comunidade, algo incomum entre freiras católicas tradicionais.
Segundo Eva, as irmãs não se consideram freiras, mas “irmãs consagradas”. Elas usam vestimentas religiosas, maquiagem e linguagem inspirada na Renovação Carismática Católica, mas também adotam hinos protestantes. “Me arrumo para Jesus”, explica Eva, que entrou na congregação aos 16 anos.
Culto ao líder e rituais híbridos
Com cerca de 70 membros, a comunidade mistura símbolos católicos com práticas próprias. Vídeos mostram fiéis beijando as vestes do líder religioso e tocando nele durante celebrações. Os cultos são em português, com músicas populares entre os católicos, como canções do Padre Marcelo Rossi.
Especialistas apontam que esse tipo de grupo é comum no Brasil. “Há muitas igrejas que se apresentam como ‘católicas’ ou ‘ortodoxas’, mas que não têm ligação com o Vaticano nem com patriarcados reconhecidos”, explica o professor Wagner Sanchez, da PUC-SP. Em muitos casos, essas comunidades são fundadas por ex-padres ou religiosos que rompem com a hierarquia oficial.
Vida na chácara e sustento por doações
Eva mora na “Chácara da Gruta de Nossa Senhora do Sol Nascente”, onde vivem outras 17 irmãs. A comunidade sobrevive com doações e venda de artigos religiosos, além de produzir seus próprios alimentos, como leite, queijo, peixes e hortaliças.
A mãe de Eva, católica apostólica romana, não apoiou sua decisão. O acolhimento veio do líder da congregação, descrito por ela como “alguém que dá sentido à nossa vida”.
O que dizem os especialistas
Rodrigo Coppe, da PUC Minas, explica que igrejas independentes como a Sancta Dei Genitrix são legalmente permitidas, mas não têm comunhão com Roma nem com patriarcados ortodoxos. Isso pode gerar confusão entre os fiéis, sobretudo pela estética semelhante à da Igreja Católica.