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Alma gêmea

18 de setembro de 2020

O escritor português Miguel Esteves Cardoso, consegue nos convencer de que nenhum sonho custa tanto a nos abandonar como o sonho de ter uma alma gémea.

Você sente isso, sente falta de sua alma gêmea?

As almas gêmeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se.

Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos não sei de onde e na qual mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca conseguimos voltar.

 

O coração sente-se. A alma pressente-se. O coração anda aos saltos dentro do peito, a soluçar como um doido.

Mas a alma é uma rocha branca onde estão riscados os sinais indecifráveis da nossa existência. Não muda, não se mostra.

O coração ama. Mas é na alma que o amor mora.

A alma deixa o coração à solta e se desprende do corpo, porque tem mais que fazer.

E o que faz a alma? A alma manda escondidamente na parte da nossa vida que não tem expressão material ou física. Pode até está mal dito, mas está certo.

A alma não deseja, não tem saudades, não sofre nem se ri; a alma decide o que o coração e a razão podem decidir.

A alma não é uma essência ou um espírito; é a fonte, o repositório, a configuração interior.

Gêmea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo.

O desejo de encontrar uma alma gêmea não é o desejo de reafirmar a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É poder descansar dessa demanda.

Uma alma gêmea é a prova que não estamos sozinhos, é a prova de que a alma existe. Uma alma gémea faz curto-circuito com os fusíveis corpo/coração/razão. Não é o quê, é o porquê.

O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio.

 É outra forma de falar, que consiste numa alma descansar na outra. Não é a paz dos amantes nem a cumplicidade muda dos amigos. Não precisa de amor nem de amizade para se entender. As almas acharam-se. Não têm passado.

Como é que um ninho pode ser ninho de outro ninho? Duas almas gémeas podem ser.

A alma gêmea se conhece no abraço. O coração pára de bater. A existência é interrompida.

No abraço de duas almas gémeas, mesmo quando se amam o abraço parece o fim. Uma pessoa sente-se ao mesmo tempo protegida e protetora. Nenhum outro gesto, nenhuma outra palavra, é preciso para a completar. Pode passar a vida toda. Não importa.

Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso corpo perdido desde a nascença.

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