Representante do Creg destaca importância do local no combate ao feminicídio no Piauí, que registra números alarmantes
O Centro de Referência Esperança Garcia (Creg) atendeu, apenas no ano passado, 280 mulheres em situação de violência em Teresina. O local, vinculado à Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres (SMPM), recebe exclusivamente mulheres adultas, entre 18 e 59 anos, e oferece apoio psicológico, social e jurídico, bem como práticas integradas de saúde para este público.
Outro dado ilustra a crítica situação do gênero feminino no Piauí: segundo levantamento divulgado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) em 2020, as mortes de mulheres cresceram mais de 50% no mesmo período. Para a psicóloga Tanandra Borges, integrante do Creg, esse aumento no número de feminicídios não se deve somente à pandemia do novo coronavírus.
Tanandra Borges, psicóloga, foi a entrevistada do JT1 (Foto: Teresina FM)
“A violência em geral cresceu em níveis assustadores no país nos últimos dois anos, conforme nos mostra o Atlas da Violência. Em nossa atuação na capital, temos verificado que os ex-companheiros são os que mais agridem, em todos os sentidos, as mulheres teresinenses”, afirmou em entrevista ao JT1 da Teresina FM nesta sexta-feira (4).
Tanandra apontou que 70% a 80% das vítimas de violência doméstica apresentam problemas psicológicos, tais como depressão, ansiedade e transtornos alimentares, bem como possuem um medo constante da morte, que ao final as leva a pedir socorro. Frisou ainda que, desde 2015, nenhuma mulher atendida pelo Creg sofreu feminicídio.
“Não é necessário fazer agendamento, basta se dirigir ao centro. A princípio, a mulher não precisa denunciar o agressor; as medidas necessárias (inclusive protetivas) serão adotadas após conversa com nossos profissionais”, explicou a psicóloga.
Ao analisar o perfil dos agressores, a entrevistada elencou características comuns a todos, reforçadas pelo machismo estrutural: homens que objetificam as mulheres, tratam-nas como submissas, têm um sentimento de posse em relação a elas, exigem que façam o que eles desejam, consumem álcool e outras drogas de forma abusiva e não raro possuem transtornos psiquiátricos.
Profissional realiza atendimento a mulher no Creg (Foto: Divulgação/PMT)
Nesse sentido, a representante do Creg chamou atenção para outro tipo de violência, a psicológica, tipificada tanto no Código Penal quanto na Lei Maria da Penha. Em geral, o agressor controla as ações da vítima, proíbe convivência com amigos e familiares, controla acesso a celular e redes sociais, diminui a autoestima da companheira com frequência e justifica essas atitudes como “atos de amor”.
Por fim, Tanandra salientou a importância de mulheres vítimas de abuso conversarem com profissionais e também com pessoas confiáveis. “Às vezes, só enxergamos nossa situação quando outros nos fazem um alerta. O caminho para sair de relacionamentos tóxicos é tortuoso; para trilhá-lo, é necessário fortalecimento emocional e um profundo resgate da autoestima”, completou.
O Centro de Referência Esperança Garcia está localizado na Rua Benjamin Constant, 2170, Centro de Teresina, e funciona de segunda à sexta das 8h às 17h. Em caso de violência, ligue para (86) 3323-3798 ou (86) 99416-9451 ou disque 180 para a Central de Atendimento à Mulher.