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Doulas: movimento do parto humanizado resgata força feminina

A atuação das doulas tem sido fundamental no movimento que busca resgatar a participação ativa da mulher no parto e combater a violência obstétrica.

Publicado por: Lilian Oliveira 07/03/2023, 13:43

Cada vez mais mulheres têm buscado um parto humanizado, com protagonismo feminino e sem intervenções desnecessárias. Ser respeitada, acolhida, ouvida e ter uma fonte de conhecimento segura são alguns dos pontos positivos na hora de buscar ajuda. É nesse contexto que a figura da doula, que é a profissional capaz de oferecer suporte físico, emocional e informativo para as mulheres, vem ganhando força.

A doula se apresenta como uma alternativa para aumentar o bem-estar e a experiência positiva das mulheres e os benefícios da sua atuação já foram comprovados cientificamente através de inúmeros estudos.

Foto: Débora Silveira

A atuação das doulas tem sido fundamental no movimento que busca resgatar a participação ativa da mulher no parto e combater a violência obstétrica. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a taxa ideal de cesárea seja entre 10% e 15%. Porém, no Brasil, a taxa de cesariana registrou um recorde histórico no ano de 2022, chegando a 57,7%, sendo o segundo país com a maior taxa de cesáreas do mundo. No ano de 2020, 80% dos partos realizados na saúde suplementar foram por cirurgias cesáreas. Dos 484.010 partos realizados, 400.243 foram cesáreas.

Susana Moscardini é uma das muitas mulheres que decidiu seguir a profissão de doula depois de passar pela experiência da maternidade e conhecer na pele os desafios de parir no Brasil. Mesmo tendo uma carreira estabilizada como professora universitária, Susana decidiu mudar o rumo da sua vida, empoderando mulheres com conhecimento.

“Alterei todo o curso da minha vida profissional depois do nascimento de meus filhos. Era necessário e urgente compartilhar com outras pessoas todos os detalhes dessa busca pelo parto normal. Tornei-me educadora perinatal, ofereci minha casa como sala de aula e iniciei um grupo de apoio ao parto, pelo qual já passaram mais de duzentas grávidas. Segui nesse caminho ao me tornar doula, para ser suporte contínuo e fonte de informação a quem deseja enfrentar essa jornada”, explica.

Foto: Márcia Pires

“Podemos considerar a participação da Doula como um instrumento humanizador, pois ela acolhe e acompanha as mulheres na hora do parto, dando apoio emocional e incentivo não só às gestantes, mas também aos seus familiares. De acordo com as diretrizes de assistência do parto normal do Ministério da Saúde brasileiro, no seu item 6.2, sobre suporte físico e emocional, a recomendação número 15 aponta que: todas as parturientes devem ter apoio contínuo e individualizado durante o trabalho de parto e, de preferência por pessoal que não seja membro da equipe hospitalar – a doula”, destaca Susana.

De acordo com artigos da Biblioteca internacional Cochrane, o apoio contínuo durante o trabalho de parto aumenta as chances de parto vaginal espontâneo, sem intervenções, no qual as mulheres conseguem ter uma melhor experiência de parto. Susana destaca ainda que já existem diversos estudos que comprovam o benefício da presença da doula em todo o processo da gestação, parto e pós- parto.

“Bohren, M. A. et al, em metanálise publicada na biblioteca Cochrane em 2017, que incluiu diversos estudos clínicos randomizados envolvendo 15.858 mulheres, aponta que receber apoio contínuo durante o parto reduz índice de cesáreas, duração do trabalho de parto, pedido de analgesia, uso de ocitocina, índice de parto instrumental e de bebês com baixos escores de apgar no quinto minuto. A análise de subgrupo de estudos, sugere que o suporte contínuo é mais efetivo quando promovido por uma mulher que não faça parte da equipe do hospital, nem da rede social da gestante, ou seja, o suporte contínuo oferecido por uma doula”, diz.

QUEM FAZ O PARTO É A MULHER

O parto é um evento fisiológico e natural, que acontecerá sem intercorrências na maioria das gestações. Cerca de 80 a 90% das gestações terminarão em partos normais totalmente fisiológicos e sem necessidades de intervenções, de acordo com dados da Nascer no Brasil.

Susana explica que, com a institucionalização dos partos e a mudança para o ambiente hospitalar centrado na figura do médico para a maior parte dos nascimentos, o protagonismo da mulher foi diminuindo.

“O obstetra realiza intervenções, faz toque, ausculta batimentos cardíacos do bebê, indica a aplicação de ocitocina, faz cesárea. Mas parto quem faz é a mulher. É o corpo da mulher, seu útero, seu coquetel de hormônios, a mulher em toda a sua completude, que faz o parto acontecer. O obstetra ou a enfermeira obstetra são os profissionais graduados que mantêm a vigilância do processo, analisando seu desenrolar natural e, caso algum problema aconteça, fazendo uma intervenção necessária para resolvê-lo. Mas o evento natural do parto não tem outro protagonista se não a mulher”, pontua.

Foto: Márcia Pires

A Doula explica que é importante trabalhar a autonomia das mulheres, para que o processo de preparação para o parto seja baseado em um dos pilares fundamentais da assistência humanizada: decisões compartilhadas entre equipe técnica e gestante.

“Somos mulheres inseridas em uma sociedade patriarcal que insiste em nos infantilizar, culpabilizar e em nos destituir do poder inerente que temos. Somos corpos capazes de gestar, somos corpos capazes de parir nossos filhos, como acontece há milênios, e não precisamos ser tuteladas durante esse processo”, conta.

LUTA QUE SE TORNOU LIVRO

Em 2022, após quase 12 anos atuando como doula e educadora perinatal, Susana lançou o livro “Doula: Mulheres que se ajudam no momento mais importante da gestação”, pela Buzz editora. No livro, ela compartilha a sua experiência como gestante, educadora perinatal e doula, costurando, através de histórias, os encontros com as mulheres que reconheceram sua força em um dos momentos mais marcantes de sua vida.

“A vontade de escrever este livro surgiu por causa do sentimento de insatisfação em relação à realidade na qual estamos inseridas, que desencoraja mulheres a respeito de sua própria força e as desestimula a acreditar no poder inerente dos seus corpos”, pontua.

Susana destaca ainda que o caminho para o parto humanizado pode parecer longo e solitário, e, por isso, deseja que o livro seja como um abraço caloroso, para que essas mulheres saibam que não estão sozinhas nessa busca.

“O parto é a grande poesia do corpo feminino em sua trajetória de trazer novos seres humanos à vida; resgatar esse olhar é se reconectar com a naturalidade do processo. Depois do nascimento dos meus filhos, Rafael e Lucas, abracei como missão de vida o desejo de fortalecer gestantes. Por isso, quero dividir para somar, partilhando minha experiência como gestante, educadora perinatal e doula”, finaliza.

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