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Ética e jeitinho brasileiro

26 de novembro de 2019

“Há muita coisa nova acontecendo no Brasil. Há uma revolução silenciosa em curso. O velho já morreu. Só falta remover os corpos. O novo vem vindo’’. Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, em artigo publicado no jornal O Globo.

 

Jeitinho brasileiro é uma expressão que comporta múltiplos sentidos.

Na sua faceta positiva, o jeitinho se manifesta em algumas características da alma nacional: uma certa leveza de ser, que combina afetividade, bom humor, alegria de viver e uma dose de criatividade.

Este é o lado bom, que deve ser preservado.

O jeitinho constitui, também, um meio de enfrentar as adversidades da vida. Está muitas vezes ligado à sobrevivência diante das desigualdades sociais, das deficiências dos serviços públicos e das complexidades legislativas e burocráticas.

Há um critério relativamente singelo para saber se o jeitinho é aceitável ou não: verificar se há prejuízo para alguém ou para o grupo social. Se a resposta for afirmativa, dificilmente haverá salvação.

A face negativa do jeitinho é bem conhecida de todos nós. Ela envolve a pessoalização das relações, para o fim de criar regras particulares para si, flexibilizando ou quebrando normas que deveriam se aplicar a todos.

Esse pacote negativo inclui o improviso, a colocação do sentimento pessoal ou das relações pessoais acima do dever e uma certa cultura da desigualdade que ainda caracteriza a vida brasileira.

O improviso se traduz na incapacidade de planejar, de cumprir prazos e, em última análise, de cumprir a palavra. Vive-se aqui a crença equivocada de que tudo se ajeitará na última hora, com um sorriso, um gatilho e a atribuição de culpa a alguma fatalidade.

O sentimento pessoal acima do dever se manifesta no favorecimento dos parentes e dos amigos, no compadrio, na troca de favores, “o toma lá dá cá”.

A cultura da desigualdade expressa a crença generalizada de que as regras são para os outros, para os comuns, “e não para os especiais como eu”. Vem daí a permissão para furar a fila ou parar o carro na calçada.

Essa facilidade para quebrar regras sociais, em um passo, se transforma em violação direta e aberta da lei. E aí vêm as pequenas fraudes, como o atestado médico falso, a consulta com recibo ou sem recibo e a nota superfaturada para aumentar o reembolso.

Depois, sem surpresa, vem a corrupção graúda, de quem paga propina para vencer a licitação.

Improviso, sentimentos e interesse pessoais acima do dever, compadrio, cultura da desigualdade, quebra de normas sociais e violação da lei que vale para todos não são traços virtuosos, não podem fazer parte do charme de um povo e muito menos ser motivo de orgulho.

Em todas essas situações, o jeitinho traz um elevado custo moral, por expressar um déficit de honestidade pessoal e de republicanismo.

Somos uma sociedade que já consegue separar o joio do trigo. O problema são os que preferem o joio.

É a velha ordem, que reluta em sair de cena. Mas há muitas coisas novas acontecendo no Brasil.

O novo vem vindo.

Há uma imensa demanda por integridade, idealismo e patriotismo. Esta é a energia que muda o curso da história. É preciso ter fé. Para tudo existe um jeitinho.

O jeitinho do bem.

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