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Amor verdadeiro

26 de junho de 2020

Para o escritor português Miguel Esteves Cardoso, só um mundo de amor pode durar a Vida Inteira.

O que quero hoje é fazer o elogio do amor puro. Parece que ninguém mais se apaixona de verdade. Ninguém quer viver um amor impossível. Ninguém aceita mais amar sem uma razão.

Hoje as pessoas se apaixonam por uma questão de prática.

Apaixonam-se porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão.

O amor passou a ser passível de ser combinado.

Os amantes tornaram-se sócios.

Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante de camaradagem.

A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão covardes e tão comodistas como os de hoje.

São incapazes de um gesto largo, de correr um risco,

São verdadeiros matadores do romance, são romanticidas.

Ninguém se apaixona mais?

Ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio?

Ninguém aceita mais o medo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajuda. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas;

O amor não é a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida.

Não, não é.

Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, abraços, flores.

O amor fechou a loja.

O amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor.

O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino.

O amor puro é uma condição

O amor não se percebe. Não é para perceber.

O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

 O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal.

 É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste.

 A vida é uma coisa, o amor é outra.

A vida dura a vida inteira, o amor não.

Só um mundo de amor pode durar a vida inteira…

Só um mundo de amor pode valer a pena também.

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