Entidade sindical aponta que valores de arrecadação baixos se somam ao encarecimento do custo de operação do sistema
Cinco meses após a última greve dos motoristas e cobradores de ônibus, o sistema de transporte público de Teresina ainda tem de lidar com as baixas quantidades de passageiros nos veículos, impactadas tanto pelas paralisações quanto pelos efeitos da pandemia de Covid-19.
Na avaliação de Vinícius Rufino, coordenador técnico do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Setut), a média municipal de retorno dos usuários não tem correspondido ao encarecimento do custo de operação.
“A capital conta com uma oferta razoavelmente superior ao número de passageiros: 48% para 55% da frota; ou seja, estamos com a balança desequilibrada. Os valores de arrecadação baixos se somam ao aumento substancial da inflação e do preço do óleo diesel”, afirmou ao JT1 da Teresina FM nesta segunda-feira (19).
Segundo Rufino, a diferença entre a tarifa técnica e a tarifa cobrada aos usuários, que gira em torno de R$ 2,95, gera um prejuízo de quase R$ 5 milhões por mês.
“Desde abril recebemos, por parte da gestão municipal, R$ 850 mil mensais, valor definido no acordo trabalhista para cobrir o reajuste salarial concedido aos operadores. No entanto, essa quantia tem se mostrado insuficiente, uma vez que o montante necessário para financiá-lo já está na casa de R$ 2,3 milhões”, calculou.
Nesse cenário, o coordenador do Setut defendeu a necessidade da consolidação dos subsídios pagos pela prefeitura a fim de reduzir a dependência da frota de ônibus em relação ao número de passageiros.
“Digamos que um determinado bairro transporte 30 passageiros em viagens de ida e volta; esse local terá apenas um ônibus. Como a concessionária poderá disponibilizar um segundo veículo, para reduzir o tempo de espera pela metade, se não há perspectiva de incremento equivalente ou maior?”, questionou.
Quanto à lotação dos carros, Rufino alegou que a entidade não tem verificado ocorrências “fora do padrão”, uma vez que a carga de transporte em algumas faixas horárias, especialmente nas de pico, é similar ao período pré-pandêmico.
“Lógico que, por vezes, recebemos vídeos de usuários que mostram ônibus sobrecarregados, mas não é nada que não acontecesse antes. Acompanhamos a situação diariamente para determinar quais locais necessitam de reforço de frota”, assegurou.
O entrevistado reconheceu ainda que o maior desafio do Setut atualmente consiste em trazer de volta os passageiros que abandonaram o sistema ao encontrarem outras formas de locomoção.
“Muita gente que não tinha transporte deu um jeito para arranjar um veículo; você percebe que o trânsito está saturado em certos pontos. Além disso, o transporte clandestino se espalhou por todas as regiões da cidade, e não há uma fiscalização tão intensa quanto gostaríamos”, completou.