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Casal mora em prédio que serviria como memorial do Fome Zero sem água e energia elétrica

Seu Ademir e Dona Odete vivem há três anos em condições insalubres e dependem de ajuda dos vizinhos para se alimentarem

Publicado por: FM No Tempo 05/08/2022, 11:25

Matéria de Rodrigo Carvalho

Agência Nordestina de Notícias (ANN)

Essa é a quinta e última parte de uma série de reportagens sobre o avanço da fome no Piauí e no Brasil. Na quinta-feira (4), você viu que as Nações Unidas atribuem os altos índices de insegurança alimentar às crises política e econômica no país.

“Se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida”.

O discurso é de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, em sua posse como presidente da República, prometeu acabar com a fome no Brasil. Em 2003, durante seu primeiro ano de mandato, surgiu então o programa Fome Zero, que escolheu Guaribas, a 658 km de Teresina, como a cidade símbolo do projeto.

Casa planejada como monumento do Fome Zero está abandonada (Foto: André Pessoa)

Entre os inúmeros investimentos anunciados pelo governo federal no município que, à época, registrava o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país estavam: calçamentos, escolas, hospitais e, para registrar o fim da fome, um monumento intitulado Memorial do Fome Zero.

Quase 20 anos depois da implantação do programa, o prédio do Memorial está abandonado e, em uma total contradição, a casa que seria símbolo do fim da fome serve atualmente como abrigo para quem não possui um lar e nem o que comer.

O que restou do Memorial hoje é a casa de Seu Ademir e Dona Odete que, sem terem onde morar, ocuparam o espaço abandonado pelo poder público. Em conversa por telefone com a reportagem da Teresina FM, Seu Ademir relata o motivo que o levou a morar no local.

“Depois de me separar da minha ex-esposa e vender a casa que tínhamos no interior, vim morar com meu filho aqui [em Guaribas] e conheci Odete. Ele, porém, não quis a presença dela. Tivemos então de nos mudar, há três anos, para o Memorial, onde não temos energia elétrica ou mesmo água. Utilizamos a água da casa do vizinho”, revela.

Quando indagado sobre sua alimentação, Ademir desabafa: “Consigo me alimentar pedindo aos outros, pois não estou trabalhando. Vivo de ajuda do povo nas ruas”.

Dona Odete, mesmo com dificuldades para falar em função de problemas de saúde, conta, por meio de poucas palavras, os obstáculos que enfrenta na companhia do marido. “Passo necessidade, sinto fome, tenho que buscar água com um balde na cabeça”, explica.

Cidadãos de Guaribas buscam água em baldes na cabeça, como Odete (Foto: Agência Brasil)

Em relação aos seus sonhos, Odete afirma que queria apenas o básico: comida e moradia. “Uma casa boa e ter o que comer. Hoje só comi feijão com farinha que os meus vizinhos deram. Não tenho condição de comprar nada”, lamenta.

Na visão de Seu Ademir, a população de Guaribas foi enganada e, na cidade modelo do Fome Zero, a fome não acabou. “De jeito nenhum, continuo sentindo fome todos os dias. Tudo isso aqui foi dinheiro jogado no mato”, afirma.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020, indicam que mais de 43% dos piauienses, quase metade da população, vive em situação de pobreza no estado. A extrema pobreza, por sua vez, atinge cerca de 15% dos habitantes. Ao todo, o IBGE constatou que 57 mil pessoas vivem com até R$ 151 mensais.

Pessoas como Seu Ademir e Dona Odete, personagens dessa reportagem, sua história e o abandono do prédio que seria o Memorial do Fome Zero em Guaribas simbolizam que o Brasil segue derrotado quando o assunto é o combate à fome.

Confira a reportagem no Jornal da Teresina 1ª Edição desta sexta-feira (5):

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